segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A LIBERDADE

"Pedir permissão para ser você mesmo é algo que ultrapassa meu entendimento. Simplesmente não consigo processar. 
 Acho muuuuuito deprê assistir um marmanjo tirando do fundo do estômago um jeito razoavelmente meigo— mas no qual preserve o mínimo de dignidade– de pedir “autorização” para namorada para sair com os amigos. É tão incompreensível, irracional e amedrontador quanto só sair para almoçar depois de pedir a benção do chefe… Um relacionamento é o terreno no qual deveria me sentir completamente à vontade e poder exercer o direito de ser eu sem me preocupar com julgamentos—afinal, se aquela pessoa compartilha a vida comigo, nada mais óbvio do que ela saber, entender e aceitar que a tal vida inclui amigos, família, vontade de ficar sozinha, gatos/cachorros/iguana, desejo de mandar pra pqp o motorista da frente, anseio desesperado por uma tarde sonolenta e muda na rede. Mas tem gente que não compreende, e o faz por uma única razão: tem uma existência tão vazia que basta uma única pessoa para preenchê-la toda. Mas não dá pra ser a extensão de alguém: é triste demais.  
Viver um relacionamento baseado em “permissões” é como usar uma tornozeleira de monitoramento: você pensa ser livre e vive felizão nessa ilusão. Quando menos espera, no momento mais divertido, alertam que você passou dos limites e ordenam que volte para seu devido lugar. O equivalente humano do “junto!” canino. Quem necessita conhecer todos os passos do parceiro para se sentir bem, sofre de uma lamentável  insegurança travestida de dominação. Em vez de cidadão se tratar e descobrir a razão da necessidade doentia de controle, impõe sua condição ao outro— e ainda deixa implícito que isso é “natural” em qualquer casal. Natural é ligar para avisar que vai chegar mais tarde porque decidiu ir ao karaokê. AVISAR. COMUNICAR. DIZER. FALAR. Pedir, pra mim, é usado em duas condições: nas desculpas e na licença.  
É ridículo pedir permissão para viver a própria vida. O que dá, e pode ser delicioso, é vivê-la ao lado de alguém que também tenha uma.  
Porque só quem vê sentido em si mesmo– independente de você ou de qualquer pessoa– pode ser boa companhia para alguém. "

ailina aleixo

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