Hoje li uma materia sobre Brasília:
Jogo dos Sete Erros
por Lu Montes
Ligue a televisão. Assista a algum noticiário nacional. Melhor ainda: veja um programa de humor, desses que estão na crista da onda. Depois, responda: quantas vezes o programa difundiu algum clichê negativo sobre Brasília, ou sobre o Distrito Federal?
Se a resposta foi “nenhuma”, trata-se de raridade. Achincalhar Brasília e seus habitantes é esporte nacional. É daqueles assuntos de mesa de bar, quando interessa fazer a galera rir sem usar neurônios. Uma frase de efeito aqui, uma piadinha surrada ali e pronto. Brasília é a Geni, joguemos pedras.
São tantas as falácias contra a Capital Federal que dá até pra brincar de jogo dos sete erros. Quer ver?
1. Só tem ladrão em Brasília.
Negativo. Em Brasília tem ladrão, assassino, estuprador, traficante e por aí afora. Como em qualquer cidade do mundo.
Também tem uma maioria absoluta de pessoas honestas. Trabalhadoras. Decentes. Como em qualquer cidade do mundo.
2. Brasília está cheia de político corrupto. É a cidade da propina, da maracutaia, do superfaturamento.
Meia verdade. A cada novo mandato, além dos políticos, desembarcam no cerrado golpistas de todo gênero e inúmeros parasitas destinados aos altos escalões.
O interessante é que os tais políticos que se fazem acompanhar por essa corja não vão a Brasília por acaso ou devido a algum fenômeno natural, mas porque foram todos eleitos pelo voto direto de milhões de brasileiros. A cidade paga o pato pelas más escolhas dos eleitores do Brasil todo. Afinal, é sempre mais fácil culpar o vizinho.
Associar a corrupção endêmica, a fraca democracia brasileira e a incompetência do eleitorado a um ponto geográfico é muita ingenuidade, ou muita má-fé.
3. Brasília é a Ilha da Fantasia.
Quem foi o infeliz que cunhou essa expressão?
Ricardo Montalbán não anda pela cidade, nem o fantasma do Tattoo. Não há exuberantes paisagens tropicais, e você não terá seus desejos realizados num passe de mágica.
Brasília – sinto quebrar sua ilusão – é feita de gente que batalha diariamente pelo ganha-pão e ainda acha energia para estudar para concursos públicos à noite.
“Há gente de todo o tipo em Brasília, como em qualquer outro canto”
4. Ah, tá vendo? É a terra do funcionalismo público!
Boa parte da Administração Pública Federal está aqui, sim. É para isso que serve a capital administrativa de um país – para centralizar atividades de Estado, facilitando sua gestão.
Toda cidade tem uma vocação, seja ela a indústria, o turismo, a produção cultural etc. e tal. A vocação de Brasília, como sede do governo, é o serviço público, destinado a atender brasileiros de todo o país. Qual é o problema?
5. O problema é que funcionário público não trabalha!
A família vai bem, pois não?
É verdade, há os tais funcionários públicos encostados. Gente antiga, com mentalidade atrasada, pouca instrução e muita má-vontade. Só que eles são uma ridícula minoria. Vá a qualquer órgão que conte com servidores concursados para a carreira e você verá gente competente desempenhando suas tarefas com presteza, tentando fazer o melhor possível no mar de burocracia que emperra a máquina estatal.
6. Brasiliense é alienado/filhinho-de-papai.
E paulistano é neurótico, mineiro é caipira, carioca é malandro. Favelado é bandido. E, claro, gaúcho é gay.
Generalizações como essas denotam uma vivência nula e uma ignorância homérica. Há gente de todo o tipo em Brasília, como em qualquer outro canto.
7. Brasiliense ganha rios de dinheiro.
O mesmo sujeito que inventou que Brasília é a Ilha da Fantasia deve ter inventado essa também.
Brasília tem enormes contrastes. A área que, tecnicamente, recebe esse nome corresponde ao Plano Piloto e abriga menos de 250.000 pessoas. A população do Distrito Federal, por outro lado, inclui as chamadas cidades-satélites e chega perto de 2,5 milhões. Essa multidão mora longe do trabalho, ganha pouco e rala muito.
Ao fim e ao cabo, todos sofrem as conseqüências do mito da “ilha da fantasia”, pagando preços especulativos pela moradia e submetendo-se a serviços superfaturados.
“A cidade paga o pato pelas más escolhas dos eleitores do Brasil todo”
Então, o que é Brasília?
Brasília é o Brasil e o povo brasileiro, em menor escala. Acolhe gente dos quatro cantos, comidas de todas as regiões, sotaques e gírias do país inteiro. Todos os defeitos e virtudes do país estão, também, na sua capital.
Pense na Capital da República como um espelho perfeito apontado para a sociedade brasileira, seus hábitos e suas contradições. O que você vê nesse espelho não é agradável? Então, olhe ao seu redor. Analise sua rotina, seus valores éticos, seu interesse em política, seu compromisso com a coisa pública. Observe seu comportamento diário. Veja se você se pauta pelo respeito ao próximo, ou se prefere “dar um jeitinho” furando fila, passando a perna no chefe ou embolsando o troco errado.
Quando ouvir (ou disser) novamente que Brasília é terra de gente safada, corrupta e oportunista, antes de gargalhar como se não tivesse nada a ver com a encrenca, pergunte-se: o que o espelho reflete?
Jogo dos Sete Erros
por Lu Montes
Ligue a televisão. Assista a algum noticiário nacional. Melhor ainda: veja um programa de humor, desses que estão na crista da onda. Depois, responda: quantas vezes o programa difundiu algum clichê negativo sobre Brasília, ou sobre o Distrito Federal?
Se a resposta foi “nenhuma”, trata-se de raridade. Achincalhar Brasília e seus habitantes é esporte nacional. É daqueles assuntos de mesa de bar, quando interessa fazer a galera rir sem usar neurônios. Uma frase de efeito aqui, uma piadinha surrada ali e pronto. Brasília é a Geni, joguemos pedras.
São tantas as falácias contra a Capital Federal que dá até pra brincar de jogo dos sete erros. Quer ver?
1. Só tem ladrão em Brasília.
Negativo. Em Brasília tem ladrão, assassino, estuprador, traficante e por aí afora. Como em qualquer cidade do mundo.
Também tem uma maioria absoluta de pessoas honestas. Trabalhadoras. Decentes. Como em qualquer cidade do mundo.
2. Brasília está cheia de político corrupto. É a cidade da propina, da maracutaia, do superfaturamento.
Meia verdade. A cada novo mandato, além dos políticos, desembarcam no cerrado golpistas de todo gênero e inúmeros parasitas destinados aos altos escalões.
O interessante é que os tais políticos que se fazem acompanhar por essa corja não vão a Brasília por acaso ou devido a algum fenômeno natural, mas porque foram todos eleitos pelo voto direto de milhões de brasileiros. A cidade paga o pato pelas más escolhas dos eleitores do Brasil todo. Afinal, é sempre mais fácil culpar o vizinho.
Associar a corrupção endêmica, a fraca democracia brasileira e a incompetência do eleitorado a um ponto geográfico é muita ingenuidade, ou muita má-fé.
3. Brasília é a Ilha da Fantasia.
Quem foi o infeliz que cunhou essa expressão?
Ricardo Montalbán não anda pela cidade, nem o fantasma do Tattoo. Não há exuberantes paisagens tropicais, e você não terá seus desejos realizados num passe de mágica.
Brasília – sinto quebrar sua ilusão – é feita de gente que batalha diariamente pelo ganha-pão e ainda acha energia para estudar para concursos públicos à noite.
“Há gente de todo o tipo em Brasília, como em qualquer outro canto”
4. Ah, tá vendo? É a terra do funcionalismo público!
Boa parte da Administração Pública Federal está aqui, sim. É para isso que serve a capital administrativa de um país – para centralizar atividades de Estado, facilitando sua gestão.
Toda cidade tem uma vocação, seja ela a indústria, o turismo, a produção cultural etc. e tal. A vocação de Brasília, como sede do governo, é o serviço público, destinado a atender brasileiros de todo o país. Qual é o problema?
5. O problema é que funcionário público não trabalha!
A família vai bem, pois não?
É verdade, há os tais funcionários públicos encostados. Gente antiga, com mentalidade atrasada, pouca instrução e muita má-vontade. Só que eles são uma ridícula minoria. Vá a qualquer órgão que conte com servidores concursados para a carreira e você verá gente competente desempenhando suas tarefas com presteza, tentando fazer o melhor possível no mar de burocracia que emperra a máquina estatal.
6. Brasiliense é alienado/filhinho-de-papai.
E paulistano é neurótico, mineiro é caipira, carioca é malandro. Favelado é bandido. E, claro, gaúcho é gay.
Generalizações como essas denotam uma vivência nula e uma ignorância homérica. Há gente de todo o tipo em Brasília, como em qualquer outro canto.
7. Brasiliense ganha rios de dinheiro.
O mesmo sujeito que inventou que Brasília é a Ilha da Fantasia deve ter inventado essa também.
Brasília tem enormes contrastes. A área que, tecnicamente, recebe esse nome corresponde ao Plano Piloto e abriga menos de 250.000 pessoas. A população do Distrito Federal, por outro lado, inclui as chamadas cidades-satélites e chega perto de 2,5 milhões. Essa multidão mora longe do trabalho, ganha pouco e rala muito.
Ao fim e ao cabo, todos sofrem as conseqüências do mito da “ilha da fantasia”, pagando preços especulativos pela moradia e submetendo-se a serviços superfaturados.
“A cidade paga o pato pelas más escolhas dos eleitores do Brasil todo”
Então, o que é Brasília?
Brasília é o Brasil e o povo brasileiro, em menor escala. Acolhe gente dos quatro cantos, comidas de todas as regiões, sotaques e gírias do país inteiro. Todos os defeitos e virtudes do país estão, também, na sua capital.
Pense na Capital da República como um espelho perfeito apontado para a sociedade brasileira, seus hábitos e suas contradições. O que você vê nesse espelho não é agradável? Então, olhe ao seu redor. Analise sua rotina, seus valores éticos, seu interesse em política, seu compromisso com a coisa pública. Observe seu comportamento diário. Veja se você se pauta pelo respeito ao próximo, ou se prefere “dar um jeitinho” furando fila, passando a perna no chefe ou embolsando o troco errado.
Quando ouvir (ou disser) novamente que Brasília é terra de gente safada, corrupta e oportunista, antes de gargalhar como se não tivesse nada a ver com a encrenca, pergunte-se: o que o espelho reflete?
Nenhum comentário:
Postar um comentário