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segunda-feira, 18 de maio de 2015

-Azul de menino, Rosa de menina.
Joana veste rosa
João veste azul
Compra cozinha para Joana
Compra carrinho para João
– Veste essa saia, menina...
– Menino veste o calção.
– Fecha essas pernas, Joana.
– Não se afemine João.
– Pega a boneca e nina, menina...
– Solta essa boneca, João!
Cabelo grande é de menina
Cabelo curto é de João
Vestido é coisa de menina
Menino não pode não
Menina tem que ser feminina
Menino tem que ser machão
Homem não chora não
Mulher tem que se dar o respeito
– Anda entre amigas, Joana. Menino não presta...
– João, beija logo essas meninas. Não perde tempo não, bestão!
– Joana, olha essa roupa curta, hein?!
– Está calor João, pode tirar a camisa.
Joana não pode beijar qualquer um
João vai lá pegar quantas quiser
Joana não pode embriagar-se, desde sempre deve comportar-se.
João pode beber, beijar, agarrar, farrear, e depois desculpar-se.
Joana não pode trepar, por eles só se for namorar.
João pode ir pra cama se esbaldar, tem “vadia” pra dar.
(E vai gozar primeiro.)
Joana não precisa pagar motel, já vai dar.
(Sem gozar)
João é homem, deve pagar.
Joana não pode tocar siririca, é feio, mulher tem que se respeitar.
João toca todo dia, tem que tocar.
Joana lava as calcinhas
João nem a cueca tira do lugar
Joana anda na rua sozinha com medo.
João com medo de assalto.
Joana com medo de assédio, assalto e assassinato.
Joana tem que casar, ter filhos, e para o marido cozinhar.
Joana tem que aprender a cozinhar.
João tem que trabalhar, ter filhos, beber, trepar e sustentar
Pode bater se Joana reclamar.
Joana não pode trair
João é homem, pode sim.
Joana não pode abortar, é assassina desde já.
João fugiu, ninguém perguntou.
Se o filho nasceu, João mal cuidou.
Joana mãe, pariu, agora tem que se cuidar.
João paizão, o bucho pode lhe enfeitar.
Joana coitada, cansada da vida ingrata.
João... Transformou-se num “cuzão”.
Joana e João, reféns da padronização.
- Amanda Timóteo

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