A jovem austríaca Natascha Kampusch (foto), hoje com 22 anos, vai contar em sua autobiografia,
3096 Days (3096 Dias), o que sofreu durante os mais de oito anos em que foi mantida em cativeiro por Wolfgang Priklopil. Sequestrada aos 10 anos de idade, quando ia para a escola, Natascha só conseguiu fugir em agosto de 2006. Priklopil nunca foi punido pelo crime: suicidou-se logo depois da fuga de Natascha, aos 44 anos de idade.
O tabloide britânico
Daily Mail começou a publicar nesta segunda (6), com exclusividade, os capítulos da dramática história de Natascha,
que talvez vire um filme.
É a primeira vez que Natascha fala de sua relação com o sequestrador e o sofrimento por que passou em cativeiro. Segundo o livro, ela ficava trancada em uma espécie de jaula de concreto sem qualquer abertura, chegou a levar “mais de 200 socos em uma semana”, era obrigada a raspar a cabeça – o sequestrador achava que seus fios de cabelo poderiam levar a polícia até o esconderijo – e a fazer trabalhos domésticos quase nua. Desesperada, tentou se suicidar várias vezes.
A jovem conta que Priklopil, um engenheiro que havia trabalhado na Siemens, queria uma escrava e a fazia chamá-lo de “Mestre” ou “Meu Senhor”, e ajoelhar-se em frente a ele. O sequestrador disse à Natascha, então uma criança, que seus pais tinham se recusado a pagar o resgate, por isso ela não seria libertada. Só vários anos depois ela descobriria ouvindo rádio que ainda era considerada desaparecida.
A narrativa começa do dia em que a jovem foi sequestrada e Natascha conta que há pouco tempo havia convencido a mãe a deixá-la ir sozinha para a escola. Queria mostrar que já era grande o suficiente e sabia se cuidar. Naquele dia, antes de sair, tinha tido uma discussão por causa do pai e saiu sem se despedir. Diz no livro: “Na porta da frente do meu apartamento, hesitei, pensando em algo que ela [a mãe] havia me dito dezenas de vezes antes: ‘Você não deve nunca sair com raiva. Você nunca sabe se vamos nos ver novamente!’”
A poucos metros de casa, viu o homem de olhos azuis que a pegou e colocou dentro de uma van. Não se lembra de ter gritado, mas talvez tenha resistido, porque no dia seguinte estava com o olho roxo. Tudo muito rápido.
Ela se lembra de outros detalhes e de como, um ano e meio depois do sequestro, ele disse a ela: “‘ Você não é mais Natascha. Você pertence a mim agora.’” E a jovem teve que escolher um outro nome, Bibiane, que seria sua identidade nos próximos sete anos.
Quando Natascha entrou na puberdade, o comportamento de Priklopil mudou. O criminoso passou a tratá-la como algo sujo e nojento e passou a assediá-la sexualmente. No capítulo publicado pelo
Daily Mail não há menção de estupro. A jovem afirma que quando o sequestrador dormia ao lado dela, queria ter alguém em quem fazer carinho, só.
No dia a dia, Natascha tinha que limpar exaustivamente a casa de Priklopil. Tudo podia estar brilhando, mas se ele não estivesse satisfeito, ela levaria uma surra – e os acessos de raiva dele foram ficando cada vez mais frequentes. Sem comer direito, fraca, com medo, e nunca completamente vestida, Natascha não tentaria fugir, na visão de Priklopil.
Por muitos anos, ela não tentou. Mas, um dia, reuniu forças e conseguiu escapar. Agora, juntou coragem para contar a própria história e exorcizar uma parte terrível de seu passado.