por Ailin Aleixo

Não preciso que ninguém pague a conta do restaurante: trabalho desde os 20 anos e posso muito bem arcar com o preço da minha almôndega.
Não preciso que ninguém puxe a cadeira para que eu sente: tenho braços e o mínimo de coordenação motora para realizar a tarefa.
Não preciso que ninguém abra a porta do carro para eu entrar: consigo usar minhas mãos pra isso. E, bônus, sem cair de cara no meio-fio.
Realmente  posso fazer tudo isso sozinha. Mas adoro quando um homem faz por mim.
Cavalheiros são uma raça superior; e mulheres que sabem receber essas delicadezas sem chiliques, também. Nada mais ridículo do que uma feminista ensandecida que interpreta uma simples gentileza masculina (chamar o garçom para servir o vinho, por exemplo) como uma ameaça devoradora à sua independência. Parece que ele está querendo extirpar o clitóris da cidadã. Ah, vá se catar! Beba o vinho e cala a boca: deixe o cara ser homem e cuidar.
Adoro mimos masculinos. Quanto mais flores chegarem ao meu trabalho, melhor. Curto que cedam a passagem para mim na escada rolante. Se ele quiser ficar do lado da rua enquanto andamos na calçada, tudo bem: não sinto minha liberdade ameaçada porque ele prefere que eu não seja atropelada. É uma tremenda mentira dizer que afagos cavalheirísticos não fazem falta nestes tempos de tantas obrigações, deveres infindáveis. Para que me privar de coisas tão boas quanto ter uma jaqueta colocada sobre as minhas costas numa noite de vento frio? Aceito ser a parte mais “fraca” se isso significa ser cuidada com carinho.
Mas homem cavalheiro é um troço difícil de achar. E a culpa é, em boa parte, das mulheres: se parássemos de reclamar da falta de modos e galanteios dos machos e nos tornássemos melhores professoras (seja como fêmeas, seja como mães), todas estaríamos mais satisfeitas. No final das contas, eles são frutos da nossa educação. Se a maioria tem o grau de gentileza de um hooligan é porque deixamos de mostrar que ser zeloso não é sinônimo de ser veadinho e que ser carinhoso não broxa; nos omitimos na hora de apontar a trilha certa e só saímos da moita no momento de dar bronca porque eles enfiaram o pé no estrume. Daí já é meio tarde: a merda está feita.
P.S: Da mesma maneira que as mulheres deixaram de admitir e achar natural serem subjugadas, está na hora de reivindicar sermos tratadas com gentileza. E tratar da mesma forma. Porque, pra mim, ser gentil não está associado a querer traçar alguém; apenas acho que o mundo, com um pouco mais de tato, se tornaria um lugar mais agradável para passar a vida. E como é o único lugar que todos temos…